11 de out. de 2005

Meia volta!


Volver
“Canções perdidas num canto qualquer” (Senhor F Discos)
Graças aos deuses o cenário pop recifense solta as amarras do saturado e recalcado regionalismo – que já tinha o que dar e precisa de uma urgente reavaliação/renovação. O novato quarteto Volver é uma dessas da linha de frente do novo pop pernambucano, como temos recitado por aqui. O grupo envereda pela sonoridade “sixties” que assola o país e tem produzido vários “carbonos” que mancham aqueles anos passados. Não é o caso do Volver, pois seu disco de estréia é um disco resolvido que se lambuza nas melodias e harmonias produzidas por lendas como Beatles, The Who, The Hollies, Byrds, a nossa Jovem Guarda e, por conseguinte suas boas crias brasucas como Júpiter Maça, Relespública, The Charts, Cachorro Grande, etc...
Bruno Souto é o cantor e principal compositor, tem boa voz e senso melódico apurado. Mas não é só ele. Diógenes Baptisttella é um guitarrista – até comedido - que capta bem os riffs, acordes e progressões típicas da época inserindo timbragens mais atuais, seu grande trunfo. A “cozinha” levada por Fernando Barreto (baixo) e Doug (baterista) é excelente e sem comentários!
Como o gênero requer, não vamos encontrar aqui letras cabeças ou algo que o valha, os doze temas são sobre amor e relacionamentos, blá-blá-blá, que você consegue soletrar depois. O disco bem produzido, foi gravado em Recife, além da banda, também com os dedos da dupla Léo D. e William P., os preferidos dos novos sons pernambucanos. A faixa de abertura “Você que pediu” é um agradabilíssimo petardo que me lembrou os ianques Velvet Crush, sumidade power pop mundial; essa música por si já paga o disco. Mas descobrimos outras como a “merseybeat” “Mister bola de cristal” com um riff de guitarras a lá Ray Davies. A ótima “Na trate ele assim” é power pop setentista com cara de hit anos 90, bem direta; o mesmo trato podemos dar a “Lucy”. Em a “Máquina do Tempo” encontramos Byrds e Beatles, já pensou?! Embora não pareça há uma variação nessa obra, além das pitadas power pop – merseybeat, temos pitadas mod em “Não ria de mim” e em “Charminho” e lembranças da Jovem Guarda em “Quero te ver bem (longe de mim)”. Pra fechar uma ótima balada “Com sabor de choque elétrico”, umas das nossas preferidas. A Volver fez um trabalho de resgate, digamos assim, muito provavelmente de paixão com os primórdios do pop music. E o bom é que quanto mais você escutar, mais quer... Altamente recomendável!

6 de out. de 2005

No espaço

Astronautas
“Eletro-cidade” (Monstro Discos).
Só para não esquecer uma curiosidade, um dos primeiros shows que essa banda fez fora de Recife foi aqui em Jampa. Hoje, depois mais de dois anos, a banda estourou no cenário independente nacional, vendendo bem seu segundo disco, destaque em festivais, ganhando prêmios e boa aceitação de publico.
Nesse segundo disco a banda acerta a mão quanto à qualidade sonora e resolve bem a questão do lirismo, tão pobre no rock brasuca. Os temas comuns sobre a modernidade da civilização, suas tecnologias e paranóias acopladas.
Astronautas é produto da mente inquieta de André Frank, vocalista e guitarrista que tem historia pra contar, e ai vamos ter que voltar aos anos 90 em pleno estouro dos sons pernambucanos, entre os quais o excelente combo chamado Frank Jr que marcou com sua sonoridade impar, que o próprio André carregou para sua atual banda.
A banda é guitarreira, som denso e características pesadas, sonoridade que faz lembrar o Helmet, Melvins e Mudhoney, figuras carimbadas do grunge americano, com algumas inserções modernoides de barulhos eletrônicos. Lembrei-me do Ministry também. Em suma, bom disco – de produção impecável da dupla Léo D e William P - que vem pro rol dos garis das limpezas de um monte de porcaria que poluem os nossos ouvidos e as ondas sonoras empestadas de baboseiras. Trilha sonora obrigatória do nosso eterno protesto. O disco traz bônus com vídeos de “Cidade Cinza” e “Não faço nada”, duas das melhores faixas. Obrigatório!

California punk!


The O.A.O.T’s
“Typical” (Sounds Like Vynil Records)
The One and Only Typical’s é um duo de Los Angeles, a cidade mais rock do planeta. A banda começou ainda no colégio quando o guitarrista e vocalista Matt Garappolo encontrou com o baixista e vocalista Eddie Garza no ano de 2000. O resultado disso é uma dupla desconhecida de sonoridade das mais explosivas. Somente a partir de 2003 começaram a assinar com esse nome e gravaram alguns demos e um EP, agora no começo de 2005 lançaram seu primeiro disco intitulado “Typical” contendo 13 canções; este já contando com o baterista Dave Palermo.
O som é fácil de decifrar, basta incluir doses generosas de Ramones, Husker Dü e Pixies, ai já temos levada punk, melodias power-pop e densidade pop sem muitas frescuras. Canções relativamente curtas – o disco tem pouco mais de 30 minutos -, guitarras fuzzy, bateria pesada e letras sobre garotas e carros.
O disco é bom por completo, bem produzido e musicas ganchudas. Achar um destaque fica até difícil, mas a pegada ramoniana de “Accelerator” e em “Janelle”; e as mais pop recheadas de distorções em “Can´t let you”, “On & on” e na excelente “Kelly oh”. É um disco pra você sair tocando toda vez que estiver chateado com alguma coisa ou espantar a tristeza em alto volume.
No site dos caras você pode baixar varias musicas e alguns ótimos vídeos. Vale a pena conferir!
The OAOT’s

Noise Japa


My Way My Love
“Hypnotic Suggestion 01”(Scratch & Sniff)
Durante centenas de anos o Japão foi fechado para qualquer estrangeiro. Quando caiu na besteira de abrir os portos, os vorazes ocidentais caíram de pau! Culminando com a subjugação, inclusive cultural, liderada pelos americanos após grande guerra. Nesse meio termo os japoneses modernos foram os que mais sugaram a cultura pop ianque em todo planeta, aliás, eles são os maiores e melhores consumidores de música que conhecemos.
Como uma espécie de “vingança” cuspiram de volta todas as “mentiras” consumidas na música pop. Misto de ironia e deboche embrulhado no papel da inocência,produziram e produzem sonoridades recicladas devolvendo ao Ocidente o que estes não foram capazes de terminar. Todo mundo hoje conhece nomes como Cornelius, Fantastic Plastic Machine, Shonen Knife e tantos japas de mente fértil e diversificada.
Outro interessantíssimo personagem é Yukio Murata que no ano de 2000 inventou o My Way My Love – ajudado pelo baixista e vocalista Dai Hiroe e pelo baterista Takeshi Owaki - retribuindo tudo que lhe foi “ensinado” em forma de noise rock, minimalismo punk-nonsense (isso existe?) e ruídos alucinados sob uma capa lo-fi. Se pensou em Sonic Youth, Brainiac ou Wire, e gosta do gênero, eis um produto bom! Depois de quatro discos por conta própria, lançaram em fevereiro deste ano “Hypnotic Suggestion:01” pelos selos File 13 e Scratch & Sniff Records, disco este que agradou bastante os americanos, ocasionando uma turnê no ano passado, e por conseguinte outra na Europa no começo deste ano. O disco apresenta algumas vinhetas em forma de ruídos como abertura para seu chapado noise-punk rock garageiro, destaque para as faixas “Captain”, “Ovo”, “Sports” e “Sound of Gold”. E como todas as mentes barulhentas, não estão preocupados com qualquer apelo pop, mas, ainda assim, soam agradáveis.
My Way My Love